Carta para Lu
Homem da lei e fiel à verdade, Luis Carlos Gomes não aceitava maldade, crueldade e muito menos a ideia da injustiça prevalecer no mundo criado por Deus. Seguro em seus princípios, ele não desistia e não descansava até fazer valer o bem em sua vida e na vida daqueles que amava.
Nascido em São Paulo capital, Lu viveu a sua infância no bairro Água Rasa. Desse bom tempo ele carregava lembranças das brincadeiras na rua, das viagens de trem maravilhosas que fazia com os seus avós – principalmente para Mogi das Cruzes – e das disciplinadas aulas de judô. Ele gostava tanto dessa arte marcial que chegou a ser faixa verde e até hoje muitos o conheciam pelo apelido “Judô”. Já a sua adolescência e sua juventude foram vividas no Rio de Janeiro, uma época que se tornou inesquecível em sua vida como um apaixonado por rock.
No ano de 1989, a mundialmente conhecida banda Iron Maiden veio para o Brasil para se apresentar no grande Rock in Rio. Tal qual não foi a surpresa de Lu que, além de ver os caras no show, também os encontrou na praia? Essa era uma das muitas histórias que Luis fazia questão de contar sempre que possível. Até porque histórias é o que não lhe faltavam.
Criando carreira na polícia civil, Luís voltou para São Paulo e seguiu muito bem obrigado atrás de seus sonhos e objetivos. Muito responsável e trabalhador, ele sobe degrau por degrau até se tornar investigador. Era com muito orgulho que Luis contava sobre os casos resolvidos e as surpresas que aconteciam, fossem positivas ou fossem negativas. Ao final de sua carreira policial Lu foi exonerado, mas não temia o novo mundo apresentando a ele. Procurando emprego como gerente, ele buscava incansavelmente uma chance de voltar ao mercado de trabalho.
Além de histórias de muito serviço e de diversão, Luis também viveu grandes histórias de amor. O seu coração bateu forte e amou duas grandes mulheres: Elaine e Alessandra. Sendo casado por 22 anos com Elaine, Lu foi pai de 2 amadas filhas; e sendo casado por 17 anos com Alessandra, ele também se tornou pai de mais duas amadas meninas. Mayara, Tamara Yasmim, Victoria e Nicolly eram as princesas do pai. Por elas ele fazia de tudo, por elas ele era só coração. E foi com muito orgulho e alegria que ele testemunhou a chegada de cada netinho amado: Beatriz (in memória), Lorenzo, Gabriel, Laura e Murillo.
Nas horas vagas e de lazer Lu amava estar com o seus e aproveitar o melhor da vida. Ele gostava de fazer churrasco – fazia uma picanha como ninguém, gostava de doces como bolo de prestígio e chocolate, gostava de assistir jogos do Palmeiras, amava uma praia e apesar de ser um apreciador do rock, Luis não abria mão de ouvir um bom sertanejo como Chitãozinho e Xororó. Vaidoso, Lu também se arrumava com muito esmero. Ele tinha coleção de relógios, gostava de perfumes e passava a própria roupa. Na fé, Luis não abria mão de seu amor e de seu compromisso com a Umbanda. Tocando atabaque desde os doze anos de idade, ele tinha muito orgulho de sua religião, de sua fé e de ser filho do grande pai Xangô e da maravilhosa mãe Iemanjá, orixás divinos que abençoam a vidas de seus filhos amados.
Essa bonita e intensa trajetória de vida de Luis foi marcada por muitos ensinamentos, muito aprendizado e muitas emoções. Ele fez acontecer e lutou por justiça sempre. Mas, até o mais bravo guerreiro pode vir adoecer e foi exatamente isso o que aconteceu com Luis. Acometido pelos males e pelas sequelas da diabetes, o quadro de saúde de Lu vinha se agravando com o tempo. Foi necessária uma amputação, descobriu-se um quadro de hepatite e com a piora ele desenvolveu pedras na vesícula, falha renal e por fim duas paradas cardíacas.
Não é fácil parar os filhos do rei da justiça. Quem leva em sua coroa o nome do rei do trovão, dono das pedreiras, não sabe a hora de parar de lutar. Luis foi, sem dúvidas, um homem rígido, mas também sabia amar, sabia se divertir, sabia aproveitar a vida e se sentia vivo em poder ajudar. Com a bravura de um leão ele conduziu a sua verdade e amou intensamente todos aqueles que eram importantes para ele. Hoje nos despedimos da matéria, mas jamais diremos adeus à sua energia. A presença de Luis é desde sempre sentida por aqueles que o amam.